Semana passada, mais precisamente na
segunda-feira, fui à biblioteca do meu serviço em busca de algum livro que me
ajudasse na elaboração de um parecer. Na entrada do local, há uma estante com
os veículos informacionais cujo objetivo é oferecer notícias para consumo
imediato, cotidiano; plataformas ainda impressas que funcionam como fomentos
necessários às conversas que se querem reflexivas acerca do mundo ao redor.
Surpreendo-me, em parte, ao ver que as matérias de capa das revistas Veja, Época e Isto É apresentam
reportagens sobre temas caros às esquerdas e aos progressistas contemporâneos
(não sei, honestamente, se há alguma distinção entre essas duas
classificações). Todas tratavam de minorias - este termo, como todo conceito
genérico e banalizado, me causa uma certa apreensão cognitiva, haja vista seu
caráter amplo e impreciso. Respostas ao caricato, ignóbil, pseudo-higienista e
inadjetivável - dada sua torpeza - Deputado Marco Feliciano? Não sei. Se for,
ótimo! Tenho de reconhecer o meu cínico contentamento quando vejo que os donos
do poder estão do mesmo lado que eu, ainda que por motivos diversos. Dá uma
sensação de que, pelo menos nisso, não irei perder. Duas delas falavam de
relações homoafetivas e uma sobre o sucesso das cotas. Preâmbulo feito, vamos ao
texto da vez.
Esqueçam o que acabaram de ler. Não acredito
mais em muitos dos conceitos que tinha como pressupostos construídos e
internalizados por todos aqueles que ficam incomodados com as contradições
patentes do mundo que os cercam, quais sejam: a)respeito às diferenças
culturais/étnicas/individuais, à relatividade das diversas crenças, à
autodeterminação dos povos, famílias e indivíduos; b) aos ideais burgueses
libertários de igualdade, liberdade e fraternidade; c) às pretensões
socialistas de justiça social, igualdade material e senso de coletividade que
leva ao compartilhamento de todos os nossos avanços tecnológicos, sociais,
científicos, humanísticos e culturais por todos; d) dentre outros. É sério. A
capacidade argumentativa e a força da oratória do escolhido por Deus, que hoje
ocupa a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados,
iluminou a penumbra que até então distorcia minha visão de mundo.
Neste sentido, peço algumas orientações a
este instrumento do Onipresente, porta-voz dos valores fundamentais do Senhor.
Iluminado Pastor, tive a sorte de ver e ouvir
seus esclarecimentos sobre os negros. Entendi que as mazelas pelas quais passam
os povos africanos não são produtos das violências impetradas de forma brutal,
covarde e sistemática por nações belicamente mais desenvolvidas e necessitadas
de expansão mercantil capaz de sustentar a ostentação da qual gozavam até
então. Mas sim um castigo do Nosso Senhor, aquele piedoso e, ao mesmo tempo,
vingativo Deus capaz de perdoar 70 X 7 vezes; assim como de incendiar
populações inteiras de cidades nas quais uma pequena parte dos habitantes
praticava atos que o desagradavam. A reprimenda aplicada aos povos oriundos do
continente africano, desde os tempos mais remotos até os dias atuais, é justa e
necessária por terem sido eles os primeiros a praticar, neste mundo, atos
libidinosos entre pessoas do mesmo sexo. Isso esclarece, inclusive, a ameaça de
extinção pela qual passam atualmente espécies animais como golfinhos, macacos e
outros; subcategorias de mamíferos nas quais alguns de seus indivíduos ousaram
ter comportamentos antinaturais, como a homossexualidade.
Preclaro apóstolo, observei – corrija-me
conforme os mandamentos da Divindade se estiver equivocado – que também é, como
eu, de ascendência africana, neste caso, como fugir da maldição apregoada aos
nossos ancestrais e seus descendentes? Admito que fiquei desesperado diante de
tal informação. Não bastasse isso, meu pai era meio “pai de santo” (ou seria
hospedeiro de demônios?), o que, creio, piora em muito a minha situação. Há
redenção possível neste caso? Devo tentar um clareamento de pele? É possível, e
aceitável, ao menos tentar uma mudança genética de forma que meus descendentes
não sofram tal maldição? Não quero, de forma alguma, que eles passem por esse
castigo divinamente ordenado e materializado no preconceito e discriminação que
sofro diariamente em todas as situações sociais, inevitáveis, às quais sou exposto.
Isto não é tudo, ó Messias! Durante minha
infância, brinquei de forma libidinosa com meus amiguinhos (o vulgo
troca-troca, não sei se o Sr. também passou por isso), coisa de moleque que
deseja potencializar o hedônico prazer obtido mediante manipulações em sua
genitália. Foi só uma fase, depois não curti mais meninos, só meninas. Acredito
que não sofro dessa abominável doença chamada homossexualismo, mas cometi
homossexualidades. Estou condenado? É irreversível? Há como rever isto?
Peço ainda, escolhido varão, que me explique
como fazer o Pai entender um ato repugnante cometido por uma antiga namorada, o
qual contou com minha participação, ainda que de forma omissiva. Ouvi falar que
sua genitora já foi responsável por uma clínica de abortos ilegais. É isso,
tinha dezessete anos e a menina também, concluímos que aquele óvulo de dois
meses não deveria seguir seu curso normal, haja vista os prejuízos que causaria
as nossas vidas profissionais e discentes. Sua mãe fez isso de forma contumaz,
como ela conseguiu reconciliar-se com a Providência? Imagino que essa
experiência pode me dar uma diretriz.
Ademais, ungido representante do povo,
compreendi, assistindo às sábias pregações caridosamente realizadas pelo Sr.,
que Deus só paga dividendos aos seus acionistas, ou seja, tal qual empresas de
capital aberto, o empreendimento celestial, cujos postos de atendimento na
terra são as igrejas evangélicas, remunera seus acionistas na proporção de seus
investimentos. Eu era tão ignorante que pensava que o Altíssimo apoiava a
redistribuição de renda, no sentido de minimizar injustiças sociais. Claro que
não. Se você não evolui financeiramente, o erro é seu: maldições, pecados,
provações etc. Pagar os dez por cento sobre a remuneração é uma obrigação muito
mais séria do que os impostos e juros, no caso de não pagamento, Ele não cobra
só o que não foi repassado, mas age para que a pessoa perca tudo o que tem e,
se não tiver nada, não ganhe nada, sequer o mínimo necessário para o sustento
da sua família. Jeová possui instrumentos muito mais eficazes para cobrar suas
receitas do que as empresas, credores pessoas físicas, bancos, máfias,
traficantes, fisco; Ele faz o inadimplente provar o insucesso, o fracasso, a
estagnação, a falência, a quebradeira - de tal modo que o desvirtuado pense que foi abandonado por Ele. Talvez por
isso eu ainda deva tanto. Há como pagar o retroativo? Segundo as estatísticas
econométricas, qual tem sido o prazo médio de retorno? É que estou com um
dinheiro pra resolver algumas pendências, mas, a depender do ganho e do prazo,
talvez fosse melhor aplicar na carteira (de investimentos) do Sr. O que acha?
Finalmente, agraciado pelo Pai com o dom da
hermenêutica divina e, por isto, intérprete visionário dos fatos cotidianos, quero
agradecê-lo pelos esclarecimentos prestados, de forma tão didática, sobre as
razões que causaram os óbitos, revestidos por uma suposta fatalidade inerente à
existência humana, de alguns músicos. Claro que não foram. Afinal, não cai uma
folha de uma árvore sem a autorização Dele. Deus mandou matar Lennon,
inconformado com a herética afirmação proferida por este ao declarar ser sua banda
mais conhecida do que o primogênito enviado por Ele. Ainda que a exposição
midiática e as manifestações de apreço protagonizadas por fãs dos Beatles
fossem muito mais (infinitamente mais) perceptíveis, quando comparadas aos atos
de fé realizados pelos cristãos naquele momento, esse comentário, mesmo que
dito de forma despretensiosa, impensada e sem ter por objetivo colocar-se num
grau de importância superior ao do Messias, foi mostra de uma insubordinação
intolerável. Pouco importa se esse artista dedicou grande parte de sua vida
para falar de amor, paz e necessidade da ação de todos para a construção de um
mundo melhor, pois aquele que desafia o Criador deve ser eliminado. Acredito
que o executor da demanda tenha sido absolvido, pela justiça celestial, do
delito cometido. Talvez estrito cumprimento de uma ordem de superior
hierárquico não expressamente ilegal ou alguma coação irresistível. Também Deus
derrubou o avião dos Mamonas Assassinas, banda com tal nome não pode continuar –
e eu que dançava “Robocop Gay”, Perdoa, Senhor!
Só queria saber, Mestre, se não há como nosso
senhor dar uma melhorada na atual safra da música popular brasileira, levar os
Leleks, Telós e Quadradinhos de 8. Estou orando pra isso!
Reverências do seu mais novo fiel!
Caro amigo, reflexões muito interessantes com a sua costumeira carga de deboche... nos provérbios do rei Salomão há uma frase interessante: o tolo será escravo do sábio. Muitas pessoas têm espírito de ovelha, elas querem seguir alguém a qualquer custo... quantos ditos cristão leram a Bíblia na íntegra?: todos querem os resumos dos padres e pastores por conveniência e ignorância... Se bem que ser cristão é ter amor incondicional ao próximo, independente ou não de ter decorado trechos da bíblia...
ResponderExcluirVocê, Daniel, sempre solidário com o amigo, comentando de forma inteligente os posts bobos deste blog. Obrigado! É isso mesmo, o cristianismo, que era pra ser uma ruptura, um questionamento às imposições judaicas e romanas, acabou sendo apropriado pelos opressores e transformado em instrumento de repressão...
ExcluirAmém irmão. A alegria do Senhor invade a minha casa e há contentamento em saber que voltates (termina com ou sem "s" essa porra?) ao facebook e às críticas sensacionais.
ResponderExcluirE que Deus tenha misericórdia dos infiéis e impuros que criticam nosso mais ilustre pregador ungido do Espírito Santo, Pastor M. Feliciano. Aleluuuuiiiiiiiaaaaaa!!! grória a Deusssss!!!
Ed
DÁ-LHE BICUDA NA CARA DO CÃO!!!!!!!!!!
ResponderExcluirSempre desconfiei da misericórdia divina. Agora tá tudo explicado. Deus é um sádico que se diverte derrubando aviõezinhos daqueles que se comportaram mal. Fiquemos todos atentos. A qualquer momento nossa hora vai chegar.
Bzos!
Carol
Glória a DeuS! Que ele possa sempre usar sua fúria contra todos que o desafiam, ainda que sem querer/saber.
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