segunda-feira, 23 de maio de 2011

Oração – A Banda Mais Bonita da Cidade. Uma análise.

Certa vez, conversando com um grande amigo de segundo grau, que cursava Artes Cênicas, confessei meu incômodo, meu sentimento de ignorância quando observava alguma obra de arte abstrata, cifrada etc.  Então ele, sempre observando as coisas com um olhar inteligente, prático e sensível, disse-me mais ou menos isso: - Cadu, não tem um modelo, um jeito certo, é o sentimento, a impressão que lhe causar, é isso. Beleza. Fiquei mais tranqüilo e me permiti contemplar as obras sem sentir culpa por ser um ignorantão. Não há, portanto, um jeito certo de analisar as produções artísticas, mas elas deixam algumas pistas que aprendi a observar e quero compartilhar com vocês as minhas percepções sobre esta música. É o último sucesso da rede e, ao que me lembro,uma das poucas que não são toscas.
Fugindo da eterna e estéril discussão sobre a possibilidade de analisar letras de músicas como poesias, irei expor as minhas impressões sobre alguns elementos audiovisuais e textuais do vídeo postado – mais que uma música com letra, é um vídeo da internet  e isso exige mais esforço e abertura do crítico do que costumeiramente estamos dispostos a aceitar. A primeira imagem é a de um rapaz com uma tentativa de barba no rosto, um cabelo meio bagunçadinho, olhando por uma janela, a qual apresenta uma paisagem que remete à cidade de Ouro Preto – MG, uma república, ou qualquer outra cidade classificada por nós como “histórica” (como se as outras não fossem), ele segura algo parecido com um tablet e tem uma cara boa, de quem acha que “viver é mais que isso”, e traja uma roupa de ficar em casa. A empatia inicial entre artista e público está estabelecida, claro que com um determinado público que se identifica com o perfil imaginado. A voz dele não ficaria entre as vinte de qualquer programa televisivo que caça talentos musicais. Essa voz “comum” aproxima ainda mais. Os primeiros versos trazem vocábulos familiares e afetivamente simpáticos ao público: meu amor, oração, salvar, coração. Oração é algo que só fazemos a quem consideramos seres superiores, capazes de nos trazerem alguma salvação, com poderes supra-materiais, como é quem se ama pra quem ama. Além disso, as orações, via de regra, repetem, como se o destinatário precisasse entender a mensagem ou a importância dela – a música faz isso. E, didaticamente, tenta explicar como funciona o HD do coração. Fala ainda em salvar “seu” coração quando o desenrolar da canção evidencia que o coração a ser salvo é o do eu lírico.
Uma outra proposição da música é a separação entre o que se pode comprar, o que cabe na dispensa, e o que não cabe, não se compra, o “meu amor”. O que é mais importante? O ouvinte reflete e é aí que a música começa a cumprir um dos papéis da arte: provocar a reflexão. Reflexão rara em tempos de consumismo compulsivo: preciso de tal coisa urgente! Um controle de videogame sem fio ou uma bolsa com tais detalhes. O vídeo acaba por provar que viver é mais do que conseguir comprar coisas. A utilização de “penteadeira” tem a curiosidade de remeter a um equipamento doméstico fora de uso, talvez desconhecido por grande parte dos usuários da internet, composta por adolescentes, mas justificável pela idade que aparentam ter os músicos da banda. E essa penteadeira pode ainda ser um conjunto de adereços embelezadores, dispensáveis ao olhar de quem está apaixonado, pois estes acham espinhas e manchinhas detalhes charmosos. “Cabe até o meu amor” diz que o amor é muito maior do que todas as outras bobagens mencionadas, o amor sim é grande, grandão, e ainda assim cabe no coração.
Retornando ao vídeo, ele tem uma clara semelhança com este, também muito repercutido na web. Apesar da referência citada pela banda ser este.  Têm alguma relação? Inspiração, cópia, referência? Não importa. O que importa é que a impressão causada por pessoas construindo coisas juntas agrada. Se elas estiverem felizes e forem jovens, então nem se fala. Claro que o vídeo da banda é mais legal. Mas num mundo de amizades virtuais, de afinidades compiladas em comunidades, ver um monte de gente com cara de legal curtindo juntas causa uma inveja instantânea: - Queria ter uma galera dessas. Já deu, né? Beijo pra essa tchurma (http://www.myspace.com/abandamaisbonitadacidade/music) . Que venham os próximos! Bem-vindos, A Banda Mais Linda da Cidade! Agora fodeu, queremos mais. Se não for a mais linda, é a mais fofa do momento.            

domingo, 8 de maio de 2011

Pra não morrer

Achismos. É só pro Google não deletar. Eles disseram que vão excluir o que não estiver sendo usado.
Passei um tempo querendo mudar o mundo. E ainda quero.
Passei um tempo querendo ser professor. E ainda quero.
Passei um tempo querendo mudar o curso do rio chamado Vida. E ainda quero.
Passei um tempo acreditando em Deus. Não acredito mais, mas se ele for como O deus deve ser, me entende, mesmo que eu não concorde com a sua postura. Ainda esses dias, após muito tempo, tive uma conversa séria com Ele, como tinha antes, quando conversava com Ele e comigo, simultaneamente-ao-mesmo-tempo, e disse: Você sabe que eu sou do bem, mas fico muito, mas muito, puto com a sua negligência, inoperância, indiferença, quase sadismo, com relação aos rumos e estupidezes dos homens, bem como às manifestações escabrosas da natureza, que tá putinha com a gente e quer, porque quer, provar que é mais forte que o homem, e ainda insiste em não explicar as razões de judiar tanto de um povo (como faz com os africanos). Se é vou ver no que que dá, não vem com esse papinho de estou em todos os lugares ao mesmo tempo e as coisas só acontecem se eu permitir
Passei um tempo querendo ter superpoderes. Seria legal. Queria voar e soltar raios, fumaça de bom senso, respeito, inteligência, solidariedade e bom humor (deixo claro que quem tem inteligência mesmo é solidário, respeitoso, tem bom senso e bom humor).
Passei um tempo me sentindo culpado por gostar de música sertaneja, pagode e funk – claro que nem tudo presta – e de outras coisas populares. Em tese, do que o povão gosta é pobre e alienante: é nada! Quando a Adriana Calcanhoto gravou “Fico assim sem você” todo mundo achou legal, bem como o Caetano com “Sozinho”, Maria Gadu com “Baba baby” etc. Uma das idiotices do ser humano: parametrizar sua opinião, seu gosto a partir das orientações de seus ídolos (seres superiores). Sempre gostei deles. Parece que uma elitizinha de merda quer ter exclusividade no acesso à arte, no dito bom gosto. Eu não gosto de bom gosto, mas adoro o bom senso. Fazer arte é inerente ao homem (e não me encham o saco por usar “homem”). É necessidade, é o que nos faz suportar a vida, é o que nos faz sermos humanos, não é a racionalidade não. Bora ouvir essas canções de amor, essas sacanagens que são a nossa cara, esses ritmos tão sedutores e brasileiros, vamos falar mal quando não houver criação, inventividade, trabalho (arte é trabalho, muito trabalho. Lembre-se de quando tenta decorar algum ambiente, escrever alguma coisa pra alguém, desenhar, fotografar, editar, interpretar, etc). Ela, queira ou não queira, está em nosso dia-a-dia.  
Ainda continuo julgando as pessoas pela cara, pela impressão. Erro muito pouco, cinco por cento, no máximo. Continuo acreditando na boa vontade da maioria, encantado com a simplicidade e inteligência dos mais velhos (já reparou como eles fazem o que querem? Tão nem aí. Massa!). Continuo me surpreendendo com o humanismo, criatividade e ineditismo das crianças (nos sentimos quase ameaçados por elas, não é? Fico temeroso também com as barbaridades e as provas que nos dão de que o homem só se torna sociável por meio do processo de doutrinação ao qual são submetidos).
Continuo acreditando que ainda andarei em um carro voador (não deu tempo pro ano 2000). Fico de cara com a nossa capacidade de inventar coisas. Até hoje não entendo o telefone, o fax, o sinal da TV, acho incrível, acho foda. Assim como acho foda um monte de outras coisas que descobrimos, inventamos, construímos. Tenho uma fé quase religiosa na nossa capacidade de assegurar nossa sobrevivência, por isso duvido do fim do mundo. Malgrado reconheça os absurdos que cometemos a todo instante, tento me convencer, questão de suportabilidade, de que nossas virtudes superam os vícios (não no meu caso, é claro). A expectativa de vida subiu absurdamente. Brigamos pela diversidade, defendemos espécimes de sapo em extinção como se fossem nossa própria vida, mas ainda somos indiferentes aos que estão morrendo de fome – muitas pessoas, mas muitas mesmo, morrem de fome neste país e neste planeta de desperdício, egoísmo, soberba e esnobismo. Eu ainda me incomodo mais com quem não come, logicamente não estuda e está condenado, desde seu nascimento, à derrota.
Adoro discutir coisas que não vão levar a absolutamente nada. Acredito que sou mais contundente nesses casos. Rendi-me à internet e sou devoto do Google. Impressiono-me todo dia. Fico pensando o que fariam grandes pensadores que tivemos com acesso a tanta informação ao alcance de um clique e, ao mesmo tempo, fico puto com o fato das notícias mais lidas, via de regra, serem bizarrices, bobeiras, vida das celebridades, eu também leio essas coisas, é claro. Mas acredito no poder da conectividade, da anarquia, do protagonismo, da pluralidade, liberdade da rede. Ainda que não seja realidade para muitos, acredito que em breve teremos a TV Chaparral, Santa Maria, Águas Lindas exibidas por um canal no Youtube, feito por pessoas que são de lá e nunca puderam expressar suas ideias.
Continuo sem conseguir fazer metáforas criativas, esbarrar em achados esclarecedores. Não sei nomes de plantas, bichos, ruas etc. O máximo que consigo são sacadinhas do tipo: Não temos mais tempo, nem paciência, para romances, apenas crônicas e contos.
Queria poder dizer, de uma forma didática, inteligente e bem-humorada, pra todo mundo, que o mundo pode ser um lugar mais legal de viver. E olha que pode ser doido, massa, do caralho, show, batuta, joia, arretado, tri-legal, coisa-linda-de-deus. Ainda acredito no “faça sua parte”.
Continuo querendo fazer postagens frequentes e curtas e continuo sem conseguir. Escrevi há pouco tempo, pensando em tecelãs cantando, o seguinte: “Bora, bora, bora se cuidar da gente/ Gente, a gente só tem a gente.”Repete.
Beijos! Inté. Aqui ou no novo blog.