segunda-feira, 4 de julho de 2011

Trinta anos

Tô fazendo trina anos. Conforme o dito popular, quem tem ânus tem medo. E, quanto mais, mais medo. Mas tô cum medo não. Só temo não saber o que fazer quando vir alguém que amo chorar. Temo vacilar mais do que possa corrigir depois. Temo um dia dizer pra mim: é assim mesmo, tem jeito não. Temo esquecer quem fui e esquecer de procurar quem nunca fui, mas quero ser.
Meus trinta anos se foram e eu tava lá pra ver. Desses primeiros trinta, lembro nada dos dez primeiros. E todos os dias acordei querendo viver, nem que fosse pra sentir vontade de morrer. Das escolhas que fiz, errei num monte. Mas escolhi. Eu escolhi. E meus erros, como o próprio nome diz, foram meus. E como é bom ter seus próprios erros. São seus filhos. Não tive filhos... ainda. Talvez nunca os tenha. Mais um erro? Não sei.
Pensei muito. Mais do que fiz. Mas pensar sempre me fez um bem danado. Cheguei a pensar que pensar era minha maior virtude. Muitas coisas que pensei não falei. Falei algumas coisas que não pensei. Noutras calei, mas meu silêncio diz um monte. Aprendi a fazer cara de “claro que não”. Ô mãe, desculpa o tanto de porta batida até o portal querar.
Carlos, Eduardo, Carlão, Duda, Dudu, Cadu. Apelido mesmo só Mestre dos magos Fui um monte de gente. E fui mesmo. Pode não? Meus heterônimos foram dados prontos. Morra de inveja, Pessoa.
Conheci um tanto de gente legal. É legalzin não. É gostar mesmo. Se já te chamei pra tomar uma, é por gostar de você. Se me chamou e eu fui, foi pelo mesmo motivo. Há muito não faço o que não é obrigatório por obrigação. Se não atendi sua ligação, releva: foi por você. Tava bem não, tava paia. Agradeço por entender o silêncio, por discutir, por me chamar de ridículo, por rir sem graça ou constrangido.
A calma de minha mãe, o sarcasmo de meu pai, a vontade de mandar tomar no cu dos dois elevada a alguma potência não poderia dar em boa coisa. E eles fazem tanta parte do que sou e nunca tiveram a menor idéia disso. Minha mãe nem sabe o quanto admiro essa vontade que ela tem de ajudar aos outros; meu pai há muito não está aqui pra saber o quanto curtia as tiradas sarcásticas que fazia (nisso eu mando bem!, quem me conhece sabe – às vezes dá até dó). O gosto do velho pelo Brizola deu num marxista meia-bomba que acredita na revolução do proletariado.
 E, apesar de tudo, continuo aqui. Neste planeta, ô planetinha danado, viu! E ter tanta gente que para e ouve as bobagens que falo (sim, mais de dez é muita gente!) É bom. Se fez ou deixou de fazer algo por mim, faço parte da sua vida. Se fiz ou deixei fazer algo por você, sou um pouquinho de você.
Mas ó, cabou não. Tamo junto! Tá começando de novo. E agora vai ser melhor.