Em homenagem ao filme O ano que durou 21 anos e à defesa de mestrado de um brother da UnB sobre a ADPF 153
Imaginemos a seguinte situação
hipotética: um pai, conhecido como Ruipressor, mantém seu filho de 7 anos,
Ruiprimido, durante 21 anos, preso em um dos cômodos da casa. Tal castigo foi
implementado após o filho demorar mais de quinze minutos para chegar em casa, não cumprir o acordado com seu pai. Segundo o genitor, tal ação representou uma manifestação
clara de desobediência, afronta, anarquia, desrespeito aos valores da família, da hierarquia e da ordem. Assim, deveria receber a reprimenda necessária para que
esse comportamento não colocasse em risco a harmonia existente em seu lar, o
que, ainda que Rui filho não soubesse ou concordasse, seria bom para
todos.
Era rotina a aplicação de surras,
necessárias para manter o preso com sentimento de respeito (medo?), algo sempre
necessário para a manutenção da ordem nos sistemas governados por autoridades
autoritárias. Quando, eventualmente, Ruiprimido manifestava qualquer
insatisfação ou atitude minimamente suspeita, aí a pisa era bem pior que as
costumeiras: choques, agulhas embaixo das unhas, compressão dos testículos com
alicates, violação de sua cavidade anal, tapas, cuspes e o que mais a
inspiração perversa sugerisse no dia. Mas
tudo se justifica, afinal, como ousava se opor a alguém que estava ali
apenas para auxiliá-lo, torná-lo um ser humano melhor? Subversão é imperdoável.
Pois bem, os anos se passaram e
sustentar o filho naquelas condições estava ficando insustentável, seja pelo
custo, seja pela desconfiança de amigos e parentes de que algo não andava muito
bem com o rebento de Ruiprimdo. Assim, chamou Ruiprimido e propôs um acordo:
Olha meu filho, acredito que você já aprendeu os valores que queria lhe passar,
acho que agora poderá ser livre, a única condição é que me perdoe por tudo que
lhe fiz, assim como o perdoarei por suas desobediências (tentativas de fuga,
reclamações), assine este documento se comprometendo a jamais denunciar ou
querer revidar quaisquer das medidas socioeducativas que apliquei em você. É só
isso: assina e vai viver sua vida, o que passou... passou.
Ruiprimido agora, 25 anos após o
acordo de soltura, começa a se acostumar com a liberdade, ainda não sabe o que
fazer, mas acha que deve mudar seu nome para Luiberto.
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