domingo, 25 de abril de 2010

Brasília, a filha do Brasil

Atrasado, mas sem desistir, aliás, desistir não é para quem nasceu em uma cidade impossível, não poderia deixar de falar do aniversário da minha Terra.
Temos sido tão criticados ultimamente por conta de uma meia dúzia- tudo bem, talvez uma dúzia e meia - de pessoas que habitam aqui e governam – leia-se governar como utilizar o orçamento em benefício próprio e destinar áreas para construção de empreendimentos dos Otávios.
Cada povo tem o governo que merece. Mentira! Temos governos que nos foram impostos goela abaixo pelos detentores do poder econômico, utilizando uma pseudo-democracia, mas um dia a gente aprende.
Brasília é filha do Brasil real com a Utopia do Brasil sonhado, e, como filha, tem muito dos pais sem, no entanto, ser a exata soma deles, é um outro ser.
Tem gente de todo lugar do Brasil, síntese e justaposição do nosso povo.
Ah! Em tempo, quero dizer que estou me referindo ao DF, à Brasília e seus Satélites.
Grande semelhança entre Pai e filha é que ambos nasceram modernos. Explico. O país nasce já com a máquina do mundo contemporâneo em início de funcionamento: divisão de funções, trabalho alienado, produção em escala, dinheiro transformado em capital, propriedade privada e indivíduo em processo cada vez mais agudo de afirmação do seu individualismo. A capital nasce com a pretensa idéia de marcar o ingresso do país numa modernidade, na qual na verdade já está inserido desde seu nascedouro, claro numa condição periférica. E, como o pai, tem como principal marca de personalidade a contradição. A maior renda per capita e a maior desigualdade. Construções de curvas e retas de vanguarda ao lado de tapumes de madeira abrigando vidas humanas.
As pessoas de Brasília falam mal das pessoas de Brasília, mas quem são as pessoas de Brasília?
Mas o que me interessa aqui é a mãe da cidade, a Utopia. Precisamos relembrar que a cidade foi produto de um sonho de um país melhor, mais justo, mais voltado para si, mais integrado, mais mió de bão.
Que esse céu - imensa lousa mágica de um deus inspirado, que faz desenhos maravilhosos, e mesmo quando o deixa em branco, deixa um azul-vida, um azul-rua, um azul-vambora – nos inspire a tornar a Capital da esperança na Capital da realização, realização do que ainda não somos, mas do que podemos, devemos e queremos ser.

Brasília é massa! Caraí, véi, essa cidade é do caralho! Brasília?! Putz... adoro Brasília!

Pra não perder o hábito, um texto (poema?) mais “mundojaz” que fiz há algum tempo:


Todo verde que falta


Na cidade de concretos e jardins multcoloridos,
Luzes, cheiros e concursos,
Falta verde, sobram ursos

E semi-indignado sigo me sentindo perseguido
Os faróis estão quase sempre vermelho-morte, amarelo-desespero
Não me deixam passar os pardais postados nos postes

Quero o mato desorganizado, nada de eucaliptos;
nada de jardins plantados no meio do asfalto,
regados por homens de laranja mais baratos que o adubo

Quero o verde do que foi alagado e virou espelho, reflete e banha o sujo, mas não o lava: para no ar

Quero o verde da esperança dessa criançada preta que tá na redondeza

Pintarei um outdoor com lápis sem ponta, só vai enxergar quem quiser ver
Esculpirei uma estátua invisível de um deus que ainda não conheço
Entoarei cantos agnósticos em sua adoração

Acordar o verde, o verde-sangue da galera do bem

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