terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Sobre o Brasil e Chile (só escrevi sobre esse jogo! Eu acho...)

Sou da galera das lágrimas. Choro por qualquer duplo twist carpado, por qualquer perseverança altiva diante da limitação imposta, por qualquer câmera que se aproxima, calculadamente, dos olhos marejados do indivíduo filmado. Claro, na penumbra do cinema, sozinho em casa ou no vendaval de poeira, fico mais confortável. Mas choro quase com a mesma naturalidade de quem sorri. Mas o riso, ainda que sem sentido, goza do prestígio; enquanto ao choro só recompensam com desprezo. Por quê? Sei lá! Seria, no mínimo, leviano tentar explicar o choro dos nossos atletas a partir de uma análise do que supostamente compõe o caráter nacional, bem como o seria um exercício contrário. Ando muito desconfiado de todos os conceitos generalizantes acerca de quaisquer corpos sociais (exceto do caráter perverso do modelo de exploração do homem pelo homem adotado por nós). Então irei comentar apenas superficialmente sobre algumas impressões minhas, excluindo a evidente analogia com os jogadores de 50, os quais até seus últimos dias tinham pesadelos com o fatídico jogo do “maracanazzo”.
Quando fomos para os pênaltis, talvez também pela dramaticidade da situação agravada pela bola na trave no finalzinho da prorrogação, tive meus olhos tomados por um líquido conhecido (tentei segurar, mas queria mesmo era berrar, pular na minha cama e enfiar a cara no travesseiro, encharcá-lo, não pude). Nem vi, naquele momento, a posição do nosso capitão, tampouco as lágrimas prévias do nosso goleiro. Passou um filme na minha cabeça. Era parecido, imagino, com o que passou na sua, na de tantos outros brasileiro, inclusive, pasmem!, no imaginado pelos jogadores. Nosso país adora futebol. Não importa se isso nos faz piores ou melhores, é um fato. Aí a festa é aqui, o maior evento do futebol na nossa casa, depois de tudo o que nos custou (em todos os sentidos), tá lindo, a festa tá massa! Todo mundo curtindo, não tenho por costume ser um dos primeiros a ir embora. Vi, de forma muito clara, a possibilidade de ser expulso, convidado a sair da festa que tanto esperei (eu esperei e quem não queria passou a achar o máximo). Pensei na nossa gente toda, nas nossas crianças, nos nossos adultos tão felizes, infantilmente alegres e entretidos, tendo que apenas observar a galera alienígena brincar com a nossa bola, a brazuca. Não é justo, pensei, mesmo resignadamente sabedor do pouco compromisso da vida com a justiça, clamei por ela (como se os chilenos também não merecessem essa alegria, mas isso é outra história). Poxa, quero brincar pelo menos mais um pouco!
Vieram as cobranças (já sabemos como foram) e... passamos! Podemos ficar mais um pouco! O episódio teve um final feliz, um alento redentor! O peso do mundo saía, abruptamente, de nossas costas. Um choque de emoções desses não justifica um chorinho de alegria, de alívio, de vitória, de puta que pariu a gente ganhou, caralho!? Problema emocional tem quem acha que isso não é motivo.
Quanto ao nosso capitão, sempre achei que seria uma puta atitude o cara que não estivesse se sentindo seguro para cobrar um pênalti dizer, corajosamente, que não quer bater. Alguém acha que foi fácil pra ele tomar aquela decisão? É tranquilo dizer pro mundo inteiro que está se borrando todo diante da pressão? É óbvio que não é. Não foi pro Thiago. Thiago foi um gigante, mas tratado como um rato. Ele me representa muito! Mas ele é o capitão! diz o estúpido condicionado a acreditar que o líder é aquele ser autoritário, sem emoções, inabalável (ser escroto não é um traço de liderança, precisamos rever isso).
Se não chora é um mercenário que não entende o que é defender a seleção brasileira. É muita xaropice pra um povo só, meu deus!
Estou pronto pra chorar de novo. Ganhando ou perdendo, eu quero é chorar, sentir, viver, estar ali, experimentando, até o último segundo que a bola nos der, a nossa copa.
Valeu, meninos! Obrigado, caras! Parabéns, 11 valorosos brasileiros que são machos e fêmeas o suficiente pra dizer, em reações: queremos muito - muito mesmo! - ganhar essa porra dessa Copa pra gente! 

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