quarta-feira, 3 de junho de 2015

Ser 44 ou cinza é uma bosta.

É oito ou oitenta! Ou é preto ou é branco! E se não? E o que falar dos que são 32, 52 ou 44? Qual o lugar do grafite, do prata, do dálmata ou do cinza? Detesto quem não se posiciona. Mas, necessariamente, temos que aderir a uma das posições extremas oferecidas? Só existem elas? Certamente não. Sim, você já adivinhou, vou falar sobre essas paradas que estão rolando.
Pensando nisso, não ecoar o discurso do “Fora Dilma” não faz de você um PTralha. Criticar o governo ou achar que as pessoas podem ou devem protestar quando insatisfeitas não faz de você um tucano, coxinha, adepto da oposição ou golpista.
“- Tá. Então de que lado você está?” Quem?! Eu?!
Não, eu não estou “do lado do Brasil” (seria muito arriscado apoiar um conceito tão aberto, impreciso, genericamente associável tanto ao seu potencial agropecuarista, quanto à quantidade de reservas naturais preservadas; tanto ao seu caráter extremamente tolerante, quanto à realidade violenta e preconceituosa; tanto ao pôr-do-sol, quanto ao noroeste etc.) . Tampouco estou do lado da “mídia oficial” (a Globo, a Abril, a Band, os Civitas, a Record, o Correio Braziliense, ou qualquer outro grande grupo de comunicação do país ocupa lugar minimamente afetuoso ou respeitoso do meu coraçãozinho). Menos ainda apoio os interesses egoísticos das elites nacionais “que há mais de 500 anos saqueiam as riquezas e os espoliados desta terra” (acho nossa elite preguiçosa, incompetente e colonizada demais, também acho que a nação brasileira é bem mais jovem, se é que efetivamente ela já se formou; pra mim, tem cento e poucos anos que estamos de fato tentando construir um projeto de país). Juro que não sou a favor das intenções imperialistas veladas que operam (?) por aqui (sobre isso não irei comentar nada, espero que entendam a minha incapacidade em argumentar contra proposição tão insubsistente).
Também não sou um “governista alienado” (achar o máximo os avanços sociais implementados pelo governo petista nos últimos anos não faz de mim um filiado pago ou um ingênuo útil). Nem diga (se quiser dizer, também, tudo bem) que sou um esquerdistinha dissimulado (seja porque o PT não é um governo de esquerda, seja porque não me furto em afirmar que sim, sou adepto aos valores historicamente defendidos por essa corrente, seja porque estou muito distante de muitos autointitulados esquerdistas, seja porque acho a direita cínica, sem graça e cretina ao afirmar que o sucesso é uma questão de mérito, dentre tantas outras coisas).
Acabo de perceber que, ao tentar dizer o que sou, estou, na verdade, dizendo o que não sou. É uma possibilidade.
Em síntese, não estou ao lado de nenhum dos dois únicos lados supostamente existentes. Adoro o povo na rua, não interessa que povo é esse, acredito que o direito à livre manifestação é um valor essencial à democracia, à liberdade, à convivência harmônica entre os diferentes. É claro que essa liberdade tem limites, em especial aqueles referentes ao direito de outros grupos sociais a não serem agredidos (não acho aceitável uma manifestação que defenda o racismo, o ódio, a intolerância etc.). Mas sair na rua e dizer que está puto com o governo, com a corrupção (por mais bobo que isso pareça ser) ou com a presidenta é, sem dúvida alguma, legítimo (viu?! usei “sem dúvida alguma”, não sou tão vaselina assim).
Agora, querer retirar, na marra, uma pessoa legitimamente eleita pela maioria dos brasileiros (53 milhões de pessoas votaram nela, inclusive eu), não me parece pertinente. Não que as pessoas não possam pedir isso, apenas não acho que seria algo bacana, tranquilo, é assim mesmo, "vamos dar uma lição nessa corja". Temos regras. Aliás, só por isso somos da mesma galera. Essas regras foram combinadas antes do início do jogo. Estar insatisfeito com um governante não possibilita a deposição do mesmo. No parlamentarismo isso seria dentro das regras, sabia? Mas a gente nem discute essa possibilidade. Queremos mudar o jogo enquanto ele está rolando e não cogitamos mudar as regras para que o próximo seja mais de acordo com o que pensamos.
Como diz Paulo Queiroz, problemas estruturais exigem soluções estruturais. E não vi, pode ser que tenha existido, nenhum cartaz denunciando ou discutindo o sistema em si. Eu vi o Collor ser demitido (tinha 11 anos na época, não sou tão velho assim) e acreditei que aquele exemplo serviria para todos os pretendentes a governante deste país, afinal, o recado era claro. Pra contradizer isso (a história às vezes gosta de bater na cara), o líder dos “cara-pintadas é um dos investigados na operação lava-a-jato.
Reclama, gente! Desabafa! Mas não esqueça que há regras. Essas regras não são simples defesas dos picaretas, são garantias essenciais ao saudável funcionamento da democracia (conquistada por nós a tão duras penas).  
Então assim: respeita o coleguinha, ele tem direito de pensar o que quiser; mas não se cobre “ter um lado”. Não existem só esse lados aí não. Haverá quantos lados quisermos.

Ah!  Qual é o meu lado?! Xiiiii, você não entendeu foi nada!  

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